22.03.10
Nuno Bermudes - Exílio Voluntário
blogdaruanove
Nuno Bermudes (1924-1997), Exílio Voluntário (1966).
Capa de José Pádua (n. 1934).
Nuno Bermudes teve o seu percurso literário marcado pela poesia, por Moçambique e pelo Brasil. A sua primeira obra, O Poeta e o Tempo, foi publicada em 1951. No seu percurso poético seguiram-se, entre outras, a presente obra, As Paisagens Perdidas e Outros Poemas (1980) e Brasil Redescoberto: Poesia Atlântica (1983).
Em prosa, publicou, entre outras obras, Gandana e Outros Contos (1959) e Eu, Caçador, e Tu, Impala e Outras Histórias de Homens e Bichos (1983), esta última retomando o título de um poema de Exílio Voluntário.
Nuno Bermudes esteve no centro de uma polémica que o opôs ao escritor Craveirinha (1922-2003), episódio que será posteriormente referido neste espaço.
A vivência brasileira do autor deixou marcas na sua obra, como nesta colectânea onde surgem dois poemas relativos ao Brasil, Descoberta e Canção do País de Cecília, o último dedicado à poetisa brasileira Cecília Meireles (1901-1964). O Brasil voltaria ainda a ser evocado no seu ensaio Dinah Silveira de Queiroz, sob o Signo da Imortalidade (1981).
Dividido em três partes – Exílio Voluntário, Diário de Viagem e Alguns Poemas de Amor, o livro Exílio Voluntário apresenta três temáticas bem diferenciadas. África e as suas metamorfoses, o Brasil, e o amor, através de uma certa expressão que roça o erotismo.
De Alguns Poemas de Amor transcreve-se o poema Mapa-Sexo:
"Nossos corpos desenharam nos lençóis
o mapa de um país imaginário
– e neles abrimos rios,
descobrimos oceanos,
erguemos, entre gritos e gemidos,
cumes de montanhas,
desbravámos florestas,
neles nos perdemos
e, depois, nos encontrámos,
deixámo-nos cair,
exaustos,
em abismos,
morremos
e ressuscitámos."
© Blog da Rua Nove