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Literatura Colonial Portuguesa

Literatura Colonial Portuguesa

01.05.14

Castro Soromenho - Terra Morta (II)


blogdaruanove

 

Castro Soromenho (1910-1968), Terra Morta (1961).

 

Conforme anteriormente referido (http://literaturacolonialportuguesa.blogs.sapo.pt/15623.html), o romance Terra Morta surgira mencionado com a nota "Não pode entrar no mercado" na lista de obras deste autor publicada no livro Calenga (1945).

 

Com efeito, a Editorial Inquérito, que viria a editar deste autor os volumes Calenga e Homens sem Caminho (1946), tentara publicar e distribuir logo em 1944 aquele romance.

 

O texto foi distribuído para leitura pela Direcção dos Serviços de Censura em 5 de Janeiro de 1945, recebido pelo censor que emitiu o parecer, o então major Ávila Madruga (Manuel José Ávila Madruga, c. 1894- c. 1969), em 19 de Fevereiro e proibido por despacho de 18 de Abril daquele ano.

 

Transcreve-se de seguida, integralmente, o parecer, constante do relatório 2805, subscrito pelo censor:

 

"Romance da vida africana no interior de Angola. Com episódios de pouco interêsse, descreve-se a vida dos pequenos funcionários civis nos postos administrativos e a vida nas aldeias indigenas do interior da colónia. Em tôdas as narrações transparece a existência precária e pouco dignificante dos pequenos funcionários e a miséria de vida primitiva e de abandono dos indigenas. Mostra-se a penuria da população negra, explorada e massacrada pelos brancos que só têm a única preocupação de cobrar impostos e recrutar homens para trabalhos nas minas, arruinando as povoações e reduzindo cada vez mais a maior desgraça a existência dos pobres indigenas.

 

Vê-se a vida ociosa e viciosa dos funcionários, os abusos e despotismo exercido sôbre os negros. 

 

Demonstra-se a escravatura exercida por brancos portugueses e evidencia-se a miséria dos velhos colonos que lutam sem auxilio a par dos negros que definham e emigram para outras colónias onde lhes dão terras a [sic] sementes sem terem de pagar imposto.

 

Pela péssima propaganda da nossa administração colonial, da triste vida dos nossos funcionários e do abandono e exploração, por nós, dos negros, com que, ao ler-se êste livro, se fica, sou de opinião que não deve ser autorizada a publicação dêste romance por deletério e contrário à nossa acção colonial."

 

Uma cópia digital deste relatório pode ser consultada aqui: http://ephemerajpp.com/2011/12/12/censura-relatorio-no-2805-18-de-abril-de-1945-relativo-a-terra-morta-de-castro-soromenho/.

 

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