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Literatura Colonial Portuguesa

Literatura Colonial Portuguesa

03.03.10

Mário Mota - Angola, Eu Quero Falar Contigo


blogdaruanove

 

Mário Mota (1916-1981), Angola, Eu Quero Falar Contigo (1962).

 

Poeta e ensaísta, Mário Mota começou por publicar o conjunto de canções Traço-de-União e os poemas Retrato e Três Tábuas, de que se desconhecem as datas. Seguiram-se-lhes os volumes de poemas Dom Alentejo (1939), Os Troncos e as Raízes (1954), Gonga: Poemas de Angola (1962), Humanidade (1977), Poemas para Florbela d'Alma (1979) e Verdura:Poemas a Sintra (1979).

 

O presente volume anuncia a publicação do livro de poemas Dança Negra, da colectânea Vida Poética e do conjunto de contos Estrada de Catete, mas não se encontram registos da publicação dessas obras sob estes títulos. É muito provável, no entanto, que Dança Negra corresponda ao livro Gonga: Poemas de Angola, pois o subtítulo é comum.

 

Na senda do que já tinha sido feito por outros autores, durante as décadas de 1930 e 1940, na revista O Mundo Português, Mário Mota publicou também como separata da revista Gil Vicente o seu contributo para uma lista da literatura colonial, intitulado Uma Bibliografia de Literatura Ultramarina (1969).

 

Seguindo embora uma carreira na aeronáutica civil, o autor colaborou na imprensa e na rádio, particularmente em Angola. O seu poema mais conhecido, A Palavra, foi traduzido em várias línguas e incluído nas antologias Phalanstere de la Poesie (Bélgica) e International Anthology (Reino Unido).

 

Do presente volume transcrevem-se o poema O Menino e um excerto de um poema evocativo do escritor são-tomense Costa Alegre (1864-1890; cf. http://literaturacolonialportuguesa.blogs.sapo.pt/7316.html):

 

O MENINO

 

   A preta lavadeira já é mãe

   e a sua primeira preocupação

   foi mostrar o seu menino preto

   ao patrão

   e à senhora do patrão...

 

   O seu homem veio também.

 

   Ela vestiu panos estampados, novos, era mãe,

   Ele trazia o menino ao colo, aconchegado.

 

   Vinham contentes, ela gesticulando.

 

   Por fim chegaram.

 

   E discutiram entre os dois qual o primeiro a falar.

 

   E sorriram para o seu menino preto.

   Abriu a porta  a senhora do patrão.

 

   E os dois apenas disseram:

 

   O menino!

 

   Estava feita a apresentação.

 

 

COSTA ALEGRE

 

   (...)

 

   O poeta era negro

   e tinha pena de ser negro

   este poeta negro de São Tomé!

 

   Mas só a sua pele luzidia

   era negra,

   escura,

   sombria como o negrume da noite.

   Tudo o mais se expandia

   e refulgia no poeta em grandeza

   numa indiferença pela cor

 

   (...)

 

   Que tinha que fosse negra a sua cor

   e luzidia  sua pele?

 

   Não era a sua poesia de frescor

   não era cristalina a sua ansiedade?

 

   Porque odiaria o poeta a sua cor?

 

   Que tem que ver a cor

   de cada um

   se é igualmente humano

   o seu amor

   e igual a mesma dor

   seja qual for a cor?

 

   (...)

 

 

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