19.12.12
Amândio César - Novos Parágrafos de Literatura Ultramarina (I)
blogdaruanove
Amândio César (1921-1987), Novos Parágrafos de Literatura Ultramarina (1971).
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
19.12.12
blogdaruanove
Amândio César (1921-1987), Novos Parágrafos de Literatura Ultramarina (1971).
17.12.12
blogdaruanove
Rui Knopfli (1932-1997), A Ilha de Próspero (1972).
Até à saída desta obra, Rui Knopfli havia já publicado O País dos Outros (1959), Reino Submarino (1962), Máquina de Areia (1964) e Mangas Verdes com Sal (1969), todos eles volumes exclusivamente de poesia.
Este volume, um conjunto de textos e fotografias consagrado à Ilha de Moçambique, abre com dedicatórias a Jorge Sena (1919-1978) – "Português das Sete Partidas", que nesse ano visitou Moçambique, e a Alexandre Lobato (n. 1915), Amílcar Fernandes (datas desconhecidas) e Manuel Barreto (datas desconhecidas), – "Rivais directos nesta pretensão romântica e junto de quem aprendi a conhecer e a amar a Ilha."
Transcreve-se de seguida o poema Muipíti:
"Ilha, velha ilha, metal remanchado,
minha paixão adolescente,
que doloridas lembranças do tempo
em que, do alto do minarete,
Alah – o grande sacana! – sorria
aos tímidos versos bem comportados
que eu te fazia.
Eis-te, cartaz, convertida em puta histórica,
minha pachacha psedo-oriental
a rescender a canela e açafrão,
maquilhada de espesso m'siro
e a mimar, pró turismo labrego,
trejeitos torpes de cortesã decrépita.
Meu Sitting Bull de carapinha e cofió,
têm-te de cócoras na sopa melancólica
de uma arena limosa e marinha,
gaivota tonta a adejar inùtilmente
ao lume de água contra a amarra
que te cinge para sempre
ao bojo ventrudo do continente.
De teu, cultivam-te a vénia e a submissão
solícitas, trazidas nos pangaios
lá do distante Katiavar,
expondo-te apenas no que tens de vil,
razão talvez para que ao longe, de troça,
piquem mortiças as luzes do Mossuril
ou sangre no meu peito esta mágoa incurável.
Mas retomo devagarinho as tuas ruas vagarosas,
caminhos sempre abertos para o mar,
brancos e amarelos filigranados
de tempo e sal, uma lentura
brâmane (ou mussulmana?) durando no ar,
no sangue, ou no modo oblíquo como o sol
tomba sobre as coisas ferindo-as de mansinho
com a luz da eternidade.
Primeiro a ternura da mão que modelou
esta parede emprestando-lhe a curva hesitante
de uma carícia tosca mas porfiada,
logo o cheiro a sândalo, o madeiramento
corroído da porta súbito entreaberta,
o refulgir da prata na sombra mais densa:
assim descubro, subtil e cúmplice,
que adura linha do teu perfil autêntico
te vai, aos poucos, fissurando a máscara."
© Blog da Rua Nove