23.09.13
Eugénio Ferreira da Silva - Arco-Íris
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Eugénio Ferreira da Silva (1917-), Arco-Íris (1962).
Formado na área de Belas-Artes, Eugénio Ferreira da Silva integrou as equipas de escultores que intervieram na Exposição do Mundo Português, realizada em Lisboa no ano de 1940, trabalhando sob a direcção dos conhecidos escultores João Fragoso (1913-2000) e Vasco Pereira da Conceição (1914-1992).
Executou também, no campo da escultura, o monumento ao padre Agostinho Antunes de Azevedo (1876-1933), erigido em Vila do Conde, e os trabalhos em bronze do antigo café Palladium, em Lisboa.
Embora tenha colaborado com diversos órgãos da imprensa regional da então denominada Metrópole, foi este volume o seu primeiro trabalho publicado na área da literatura, sendo também o único livro seu de que parece haver registo.
Ao longo dos textos de todo este volume perpassa uma sólida linha traçada por uma educação de índole cristã paradoxalmente combinada com um latente paganismo e animismo de tradição africana.
Ocorre ainda, no conjunto formal e conceptualmente conservador desta poesia, a inusitada heterodoxia do poema intitulado Batuque na Sanzala, onde uma exclusiva composição onomatopaica remete quer para o primeiro modernismo português quer para as composições de inspiração dadaísta.
Transcreve-se deste volume o poema Folclore Enfeitiçado:
"Casas velhas dos Muceques
tão cheias de pitoresco...
feito de assombros, profundo...
Beleza que de outro mundo
ali decora o coqueiro...
Divertimento fagueiro,
na gíria dos seus «moleques»,
a ver quem os trepa primeiro...
O exótico imbondeiro,
com os seus tortuosos braços,
lembrava a angústia e os cansaços
de úberes ventres de Terra...
No terreiro a petisada
tão ranhenta e barriguda...
Gritos de jaspe a sorrir
abrindo a boca carnuda...
.......................................................
.......................................................
Buscas alguém em Luanda?!
Alguém que tu não descubras?...
Então não vás à Mutamba,
não vás à Maianga,
não vás à Angambota...
mas vai à Chicala!...
Procura-o que encontras,
ouvindo um batuque
na velha sanzala
do querido Muceques [sic] ...
Muceques das quitandeiras,
das lindas «Acácias Rubras»...
dos coqueiros expressivos
dançando «Trópico» aos ventos...
E que soberbos lamentos
deixa ali a ventania...
A velha negra tirando
fumaças do seu cachimbo...
Um velho de «Capolana»
com receio do cacimbo...
Oh meu antigo Muceques [sic]!
Oh folclore de Luanda;
Oh Mouraria africana,
trago-vos no coração!...
Desde as negrinhas Cafekos,
negras de veste escarlata...
Da carpideira à mulata
a esses travessos moleques."
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