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Literatura Colonial Portuguesa

Literatura Colonial Portuguesa

19.02.17

Portugal: Pergunte para Saber


blogdaruanove

Capa de João Paulo de Abreu e Lima (1922-2009).

 

Portugal: Pergunte para Saber (1972).

 

Publicação da Secretaria de Estado da Informação e Turismo, através da sua Direcção-Geral de Informação, este volume segue a tradição de propaganda que já havia sido instituída por António Ferro (1895-1956) na década de 1930, quando este estabeleceu o Secretariado da Propaganda Nacional.

 

Com um grafismo ancorado na Op-Art, e uma capa claramente inspirada pela obra de Victor Vasarely (1906-1997), este volume, ilustrado com dezenas de fotografias, apresenta 16 secções dedicadas a diferentes aspectos que pretendiam caracterizar Portugal – País e População, História, Religião, Governo e Administração, Cultura, Educação, Informação, Economia, Turismo, Transportes, Finanças, Política Social, Facetas típicas da vida portuguesa, Informações úteis, Portugal no mundo e Quais os principais acontecimentos da história de Portugal.

 

Na secção Cultura surgem várias subsecções dedicadas à literatura, entre elas uma intitulada «E a Temática Ultramarina?». Inevitavelmente curta e incompleta, esta é particularmente interessante nas suas referências, pois embora não mencione Luandino Vieira (n. 1935) menciona outros autores marginalizados pelo regime, como Castro Soromenho (1910-1968) e Orlando da Costa (1929-2006), não mencionando, por sua vez, um autor considerado muito próximo do estado corporativo e do governo provincial de Angola, como Reis Ventura (1910-1988).

 

Certo é que Reis Ventura, apesar de ser um prolífico autor, nunca teve as suas obras incluídas nas publicações oficiais da Agência-Geral do Ultramar. Embora privilegiasse a Editora Pax, chegou a publicar na Imbondeiro, uma dinâmica e bem-sucedida editora angolana, de Sá da Bandeira, que, no entanto, não tinha os favores do regime.

 

Transcreve-se integralmente aquela subsecção: 

 

"Remonta ao século XVI a presença da temática ultramarina na literatura portuguesa, mas foi especialmente a partir do 2.º quartel do século XX que o Portugal africano, asiático ou da Oceânia surgiu plurifacetado na obra dos escritores ultramarinos e na de escritores metropolitanos com longa vivência do ultramar.

 

Relativamente aos primeiros, muitos figuram em posição relevante na literatura nacional. Citem-se, em Cabo Verde, o romancista Baltasar Lopes, autor do romance "Chiquinho", e o poeta Jorge Barbosa («Caderno de um ilhéu») que focam os problemas regionais.

 

De S. Tomé e Príncipe é um poeta de estirpe, Francisco José Tenreiro («Ilha de Nome Santo»).

 

Em Angola, da geração actuante antes da década de 1940, e que abriu à novelística caminhos válidos, mencione-se Castro Soromenho («Nhári», «Homens sem Caminho»), e Óscar Ribas («Ecos da minha Terra»). Depois, outros valores surgiram, como: Geraldo Bessa Vítor («Sanzala sem batuque»), Orlando de Albuquerque («O homem que tinha a chuva»). A poesia tem cultores de mérito em Tomás Vieira da Cruz («Quissange», «Cazumbi»), Alda Lara, Geraldo Bessa Vítor («Cubata Abandonada», «Mucambo»), Mário António («Chingufo», «100 Poemas»).

 

Ainda dentro do sector dos escritores africanos, os valores literários de Moçambique sobressaem na poesia, em que Rui de Noronha («Quenguelequeze»), Alberto Lacerda («Exílio»), Ruy Knophli [sic], com pouca influência do ambiente («Reino Submarino», «O País dos outros») conquistaram posição de relevo. Na novelística, Guilherme de Melo chamou a atenção com o livro «A Estranha aventura».

 

Timor é tema para Fernando Sylvan, assim como a Índia Portuguesa é lugar de acção nos contos de Vimala Devi («Monção»), que é também poetisa («Hologramas»), e no romance de Agostinho Fernandes («Bodki»).

 

Mas não é de menor valor e autenticidade a obra, com temática ultramarina, de escritores metropolitanos. Têm lugar destacado: Manuel Ferreira, que em «Morabeza», «Hora Di bai» aborda problemas da terra e das gentes de Cabo Verde; Ferreira da Costa, que no 2.º quartel do século XX, debruçando-se sobre temas de África, escreveu obras como «Pedra do Feitiço» e «Na pista do marfim e  da morte», cuja acção decorre em Angola, terra em que Guilhermina de Azeredo situa o romance «Feitiços». A vida e o povo de S. Tomé encontram eco na novelística de Fernando Reis («Roça»). Timor inspira a poesia de Ruy Cinatti («Sequência Timorense»). O romance «O Signo da Ira» de Orlando Costa é documento humano de Goa. Outros prosadores e poetas como Fernanda de Castro («África Raiz»), Merícia de Lemos, etc., foram atraídos pela temática africana, o que confere à literatura nacional uma diversidade plena de interesse."

 

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