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Literatura Colonial Portuguesa

Literatura Colonial Portuguesa

04.05.24

José Manuel Pauliac de Meneses Alves - Julinha Castanha de Cajú


blogdaruanove

 

 

José Manuel Pauliac de Meneses Alves (datas desconhecidas), Julinha Castanha de Cajú (1973).

 

Apesar de existirem algumas referências a um José Manuel Pauliac Matos Chaves de Menezes Alves enquanto membro do Partido Socialista e candidato à Presidência da República, não se encontra grande informação sobre este autor.

 

Sabe-se, contudo, que ingressou no Colégio Militar em 1955 e frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa entre 1963 e 1968. Não há qualquer registo bibliográfico sobre o autor na PORBASE, nem este volume se encontra catalogado nessa fonte.

 

O exemplar que aqui se reproduz tem uma dedicatória autógrafa ao Comandante Silva Horta, datada de 2 de Agosto de 1973, na cidade do Mindelo. A dedicatória impressa na epígrafe do volume, que foi integralmente produzido nas Oficinas da Gráfica do Mindelo, apresenta o seguinte texto: "AO PROFESSOR MARCELLO CAETANO / Esperança de melhores dias para Cabo Verde. / Certeza de que o seu esforço de Político e de / Homem é o único que serve Portugal. / O único digno. / Dum Homem digno para um povo digno."

 

Entre os trinta e três poemas que compõem este volume surgem vários onde se abordam memórias e descrições de Cabo Verde, como Cabo Verde, Céu de Cabo Verde, Almoço no Mindelo em Casa da Aninhas, Evocação do Mindelo para Manuel Bandeira, Amanhecer de Domingo ou Pescador de Barlavento.

 

Outros há que apresentam retratos e ambientes de personagens ou espaços mais íntimos, como Menina Crioula, Menina Pobre do Bairro de Chãm de Alecrim, Filha de Rosa, desculpa-me, Julinha Castanha Cajú, Minha Nana de trazer por casa, Fraldas de Chiquinho em dó maior, Papanuene era seu nome, Botequim de Aguinaldo Pires, Relance da minha casa de telha de pau na rua Vasco da Gama ou Clarinha filha de Zézé Tavares, e Toco.

 

Um outro conjunto apresenta poemas abertamente constestários, onde a subtileza da crítica que perpassa por alguns dos anteriores aflora corajosa e amargamente, como em Revolucionário de pastilha elástica, Alucinogéneo para um borocrata [sic] às 6 da tarde, Acuso, Arejar esta terra ou Ainda é tempo.

 

Da leitura de todos eles, independentemente da sua poética mais ou menos conseguida, evola-se um sentimento de surpresa, pela fuga à lírica comum, à linguagem conservadora e às imagens e (pre)conceitos previsíveis, o que gera uma certa surpresa sobre o silêncio e o esquecimento que envolve esta obra.

 

Transcreve-se, de seguida, um poema que muito diz através do seu inesperado Portinglês:

 

"Black is na verdade beautiful

 

Quero um deus negro, a black church i'll need a black god.

com black hair, nos modos, cruz de pau negro,

com black dreams e misturá-lo na multidão.

Black ir de black à primeira comunhão.

 

Black is right, is reason to fight and forgive, nossos pecados,

encardidas nossas mãos.

Black is beautiful, como na canção,

é Brasil, é Angola, C. Verde, qualquer land onde esteja um irmão,

is my way to you, a kind of poem, a kind of blue.

 

É modo de ser, voz, negro é cor, happening, rua negra, casas também.

Harlem de revista, num mundo tecnicolor, cor de terra rica,

ouro, açúcar de cana, Morabeza, black is great, man...

O man black is great, o man black is great, yes man, black is great.

Let's help the world to become black.

Cor de caixão, de fumo, de algumas poeiras,

black is tomorrow and today,

i'll buy a black horse with wings, to teach me how to fly,

é tristeza, é trompete de New Orleans,

o man i love this colour, yes man is really great, yes man

just great.

 

Black é 500 anos de História.

Not stories man, no man.

Black is my colour, great colour man,

beautiful colour,

just beautiful colour, yes man, a kind of love a kind of blue,

a poem a true poem, para homens bons like you..."

 

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