26.02.10
Fernando Couto - Feições para um Retrato
blogdaruanove
Capa de José Pádua (n. 1934).
Em Novembro de 2008, Fernando Couto (n. 1924) referiu-se a si próprio como "jornalista, e nunca escritor".
Ora este jornalista, que ainda regressou a Portugal depois de 1974 e chegou a trabalhar em O Comércio do Porto antes de voltar novamente para Moçambique, onde hoje é um dos responsáveis pela Editora Ndjira (do grupo Leya), tem-nos legado uma obra que não se limita ao jornalismo.
É certo que a sua produção jornalística marcou a imprensa escrita, onde assinava muitos dos seus trabalhos com o pseudónimo Pai Fernando, e a produção radiofónica da Beira, mas a sua restante obra não é de menosprezar no contexto moçambicano da época.
Antes de 1971, ano de edição de Feições para um Retrato, Fernando Couto publicara já Poemas Junto à Fronteira (1959), Jangada de Inconformismo (1962) e O Amor Diurno (1962), sendo este último referido numa recensão crítica de Eugénio Lisboa (n. 1930) com transcrição na badana da presente obra.
Em Feições para um Retrato, Fernando Couto anunciava a futura publicação de Monódia (obra de 1964), Um Rosto de Terra e Sombra (obra de 1966/70) e A Voz Incontível (título provisório). De estes títulos apenas se publicou o primeiro, em 1997. Em 2001 publicou-se ainda Olhos Deslumbrados.
Da presente obra transcrevem-se de seguida dois poemas, uma quadra e uma sextilha, com evocação explícita de África:
De súbito,
a tristeza nasce no teu rosto,
suave, densa e silenciosa
– céu da África ainda sem noite nem dia
A lua,
tua irmã africana,
irrompeu dos teus ombros,
esplendorosa e suave.
E ao gesto diáfano das tuas mãos
incendiou-se a noite.
Como curiosidade e nota final, registe-se que Fernando Couto é pai de António Emílio Leite Couto (n. 1955), literariamente conhecido como Mia Couto.
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