11.03.16
A Mulher e a Sensibilidade Portuguesa (I)
blogdaruanove
Capa de Gracinda Candeias (n. 1947).
A Mulher e a Sensibilidade Portuguesa (1970).
Antologia organizada por Ivone Maria Gabriel Pinheiro da Silva (datas desconhecidas) e publicada em Luanda, no ano de 1970 (embora o cólofon registe Julho de 1971), pelo Comissariado Provincial da Mocidade Portuguesa Feminina.
Com 816 páginas, este volume apresenta um conjunto de prosa e poesia de inúmeros autores de língua portuguesa, incluindo escritores de Angola, Cabo Verde, Índia (Goa), Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Timor.
Apresenta ainda dezenas de ilustrações, gravuras e fotografias, entre as quais surgem reproduzidas pinturas de diversos artistas europeus, bem como obras dos pintores angolanos Gracinda Candeias e Neves e Sousa (1921-1995).
Transcrevem-se hoje dois poemas desta colectânea, um de Alda do Espírito Santo (1926-2010), de São Tomé, intitulado Lá no Água Grande, outro de Mário de Oliveira (1934-1989), de Angola, intitulado "Água Grande".
LÁ NO ÁGUA GRANDE
Lá no "Água Grande" a caminho da roça
Negritas batem que batem co'a roupa na pedra.
Batem e cantam modinhas da terra.
Cantam e riem em riso de mofa
Histórias contadas, arrastadas pelo vento.
Riem alto de rijo, com a roupa na pedra
E põem de branco a roupa lavada.
As crianças brincam e a água canta.
Brincam na água felizes...
Velam no capim um negrito pequenito.
E os gemidos cantados das negritas lá do rio
Ficam mudos lá na hora do regresso...
Jazem quedos no regresso para a roça.
Óleo de Neves e Sousa.
"ÁGUA GRANDE"
Nas águas do "água-grande",
Onde coqueiros balanceiam,
Lavam as lavadeiras
Que contam tristes histórias
do vento e da "gravana"
Enquanto seus filhos brincam
Nas águas do "água-grande"
Que passam e limpam tudo,
Até confissões de dor...
E as lavadeiras lavam sempre,
Cantando no "água-grande",
Suas ilusões de amor.
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