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Literatura Colonial Portuguesa

Literatura Colonial Portuguesa

14.04.10

Ferreira da Costa - Na Pista do Marfim e da Morte


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Ilustrações, e capa (?), de Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957).

 

Ferreira da Costa (1907-1974), Na Pista do Marfim e da Morte (1944; presente edição, 11.ª, 1945).

 

Para além de constituir um enorme sucesso de vendas, como se verifica pelo número de edições, esta obra de Ferreira da Costa recebeu ainda o Prémio de Literatura Colonial de 1944, distinção que no ano seguinte foi também alcançada, no segundo escalão, por outro livro do autor – Pedra do Feitiço (cf. http://literaturacolonialportuguesa.blogs.sapo.pt/8706.html).

 

No final da I República, ainda na sua juventude, o autor começara uma carreira de jornalista em a Tarde, onde convivera com Ferreira de Castro (1898-1974), Pinto Quartin (1887-1970), Reinaldo Ferreira (1897-1935) e Remédios de Bettencourt (datas desconhecidas). O valor destes laços compreender-se-á melhor se soubermos que foi através de Magalhães de Lima (1851-1928) que Ferrreira da Costa entrou no jornal.

 

O autor transitou ainda por outros jornais antes de prestar serviço militar. Foi nesta última situação que, em 1930, veio a ser colocado em Angola.

 

É precisamente no presente volume que, ao longo de mais de quatrocentas páginas e através de três narrativas – Vida, paixão e fim de André da Silva - o "Falta d'Ar", Sangue na planura e Seis horas de Angústia, o autor começa a relatar a sua vivência do início da década naquele vasto país [sic]. 

 
Da primeira narrativa transcrevem-se três parágrafos que descrevem a chegada do protagonista a Santo António do Zaire, vindo já de Luanda: 

 

"A alvorecer, a máquina parou. O estrépito do cabrestante marcou o lançar do ferro. Galguei as escadas e avistei a terra – faixa verde-escuro, franjada pelas águas barrentas do Zaire. Nem uma casa. Nenhum sinal de vida. Senti funda inquietação, em frente daquela imagem desoladora. ¿ Que havia para além dos herméticos renques de palmeiras? Quedei cismático, dominado por mil ideas confusas e dúvidas angustiosas. Em roda, ia uma algazarra ensurdecedora. Os descarregadores "cabindas", recrutados para os trabalhos de bordo, berravam de alegria, por estarem na véspera do regresso à sua terra. Assobiava o vapor, nos maquinismos dos paus de carga. Abriam-se com estrondo os porões – abismos penumbrosos, no fundo dos quais se empilhavam caixas e sacaria. Vinha lá de baixo o cheiro enjoativo e morno das oleaginosas e das ramas do açúcar.

 

Olhava tudo e desfiava bizarras associações de ideas, buscando esquecer-me de que teria de deixar o navio – aquêle pequeno mundo que de-pressa estaria em Lisboa, encostado à terra onde eu contava amizades e onde dormiam os meus mortos... E, ao abranger a perturbadora incógnita surgida na minha frente, chegava-me uma sensação de mêdo, apetecia-me regressar à Metrópole, recorrendo a qualquer meio, por temerário que fôsse... Talvez oculto nos porões... Talvez, falando a um dos homens de bordo, conseguisse alguma coisa... Acudiam-me reminiscências de gente que viajara de "cachola" até o outro lado do Oceano, escondida entre a carga ou nas baleeiras de salvação, por baixo dos encerados presos nos esticadores...

 

Nada me dizia estar ali o fantástico cenário das páginas mais ardentes da minha vida, onde experimentaria as sensações mais fortes e contraïria esta saüdade imensa que, hoje ainda, punge o meu coração e me leva até lá baixo, ao cais, a espreitar os navios e pedir-lhes novas do grande país onde fui o que jamais voltarei a ser."

 

 

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12.04.10

Alexandre Cabral - Terra Quente


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Alexandre Cabral (pseudónimo de José dos Santos Cabral, 1917-1996), Terra Quente (1953).

Xilogravura de Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957). Marca de posse de Pinto Quartin (1887-1970).

 

Novela, de acordo com a classificação do autor, que se desenvolve em torno de cinco personagens – Afonso, Fula, Kigala, Tiago e Zabete, e nos mostra como a relação de sangue pode ceder dramaticamente perante a cobiça e outros interesses, Terra Quente é uma das obras literárias mais poderosas de Alexandre Cabral, nomeadamente no que diz respeito ao relacionamento trágico entre tio, Afonso, e sobrinho, Tiago, os protagonistas.

 

Transcrevem-se de seguida alguns parágrafos desta obra:

 

"Precisamente nesse momento Tiago deu conta que os machados permaneciam inactivos, no meio do chão, e as serras não funcionavam. Que se passava? Era dia de festa!?

 

Cobriu-se com o casque amplo e correu para junto dos trabalhadores, agrupados em torno de um companheiro. O homem apresentava um grande rasgão na mão direita donde o sangue brotava abundantemente. Estavam os dois a serrar quando o aço traiçoeiro apanhou a mão desprevenida que resvalara do punho da ferramenta.

 

Tiago ficara perplexo. Que devia fazer? O diabo contorcia-se com dores, que a ferida era era funda e o sangue não parava de correr. Os nativos nem responderam às suas alarmadas perguntas. Todos procuravam o Daniel, como se este fosse o salvador. Mas o preto estava no meio da floresta a dar de corpo. Por fim, o negro apareceu, esbaforido. E, então, assistiu a esta cena espantosa. Daniel foi num instante buscar um frasco de vidro, dentro do qual se movia uma massa escura. Eram formigas descomunais, da grandeza de uma abelha. Um dos companheiros segurou na mão do sinistrado e juntou cautelosamente os dois lábios da ferida. Entretanto, Daniel retirara do recipiente uma formiga e aplicou-a sobre os bordos sangrentos. Prontamente as pinças do animal se fincaram na carne do paciente. Depois, com extrema habilidade, decepou com as unhas a cabeça do insecto. Repetiu a operação quatro vezes uilizando outras tantas formigas. E a ferida ficou suturada com os estranhos agrafes. Em breve estancara o sangue.

 

Tiago manifestou a sua admiração, mas Simon respondeu irònicamente:

 

– A gente também tem segredo, não é só o branco."

 

Para outra pequena recensão sobre uma colectânea de contos do mesmo autor, cf. http://literaturacolonialportuguesa.blogs.sapo.pt/5109.html.

 

 

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05.03.10

Ferreira da Costa - Pedra do Feitiço


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Capa e ilustrações de Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957).

 

Ferreira da Costa (1907-1974), Pedra do Feitiço (1945).

 

Com este volume, Ferreira da Costa complementa as narrativas que tinha apresentado em Na Pista do Marfim e da Morte, obra que fora publicada um ano antes e constituíra um imediato sucesso de vendas, com várias edições num só ano. Fenómeno que também se verificou com este livro.

 

Compilando neste volume quatro longas narrativas  - A Última Caçada de um Príncipe Negro, O Testamento do "Papa-Rôlas", A Bebedeira Verde e Adeus, irmão! Até um dia!, que mais poderão ser qualificadas como novelas do que como contos, o autor apresenta-se-nos com um narrador exímio mas é na descrição do despertar da terra africana a seguir às chuvas, apresentada em A Bebedeira Verde, que nos oferece um notável momento literário.

 

Transcrevem-se, de seguida, um excerto do prólogo à obra e um trecho da referida descrição:

 

"Prosseguindo  e concluindo as reportagens vividas que constituíram o volume intitulado 'Na Pista do Marfim e da Morte', êste livro encerra os episódios finais da minha vida nos sertões da África Ocidental.

 

Já morreram as maiores personagens das narrativas que ides ler. Mai-Kingombe, José Queiroz, Ricardo e 'Branco Grande' encetaram, há muito, a mais enigmática das aventuras; Raul de Oliveira também partiu para aquêle singular país onde, segundo a lírica visão de Tagore, ' não há noites nem dias, e os cânticos são silenciosos.' No entanto, ao escrever os capítulos que aí vão, pressenti as suas presenças. Eram sombras que rondavam nas minhas reminiscências, sugerindo-me conselhos, a explicarem-me cenas que, outrora, me parecerem inexpressivas. E pensei que lhes ofenderia grosseiramente as memórias, se juntasse à substância de acontecimentos reais – gravados na minha carne e no meu espírito – pormenores ditados pela imaginação. Demais, para que seria necessário recorrer a tanto? Para quê, meu Deus, se ainda reservo ciosamente, até não sei quando, as confidências cruéis de 'Branco Grande' – funante heróico – e a confissão pungente de Ricardo – o misterioso português acicatado pelo remorso?

 

Comovidamente meditado, somatório de recordações fiéis, êste volume nem sequer no título obedece a capricho ocasional ou preferência de eufonia. A Pedra do Feitiço existe. Fica distante de Santo António do Zaire, quási em frente de Boma. É um morro pedregoso, agreste e nu. Triste. Sinistro, por vezes. Assenta no limite de savanas bravias, onde as tsé-tsé instilam venenos letais, os carnívoros despedaçam corças e todos os brutos urram de ansiedades frenéticas, nos contactos da procriação. Para lá da colina rochosa, desliza o grande rio majestoso – o Zaire. O calor martiriza. Entontece. Leva ao desvario. Nem réstea de sombra, para lenitivo de tamanho tormento. Em tôrno, não se vislumbram sinais de vida humana. Paira um silêncio trágico, primitivo, só atenuado, ao descer a noite, pelo resfolegar dos hipopótamos e os gritos estridentes dos abutres. Chega-nos o cheiro nauseabundo da carne podre – carcassas sanguinolentas, restos dos festins nocturnos das panteras e dos chacais. Na margem, entre limos e juncos, brilha o olhar vítreo dos jacarés.

 

Penedos musgosos, carne morta ou chicoteada pelos instintos primários, ranger de queixadas que devoram, exalações de venenos dispersos nas ervagens ou suspensos nos ferrões dos insectos, goelas famintas esperando vítimas na beira-rio, coisas que apodrecem numa fermentação borbulhante que faz mêdo... Calor. Mudez. Ninguém. É  assim a Pedra do Feitiço."

 

 

Ferreira da Costa declara não ter juntado "à substância dos acontecimentos reais pormenores ditados pela imaginação". De facto, tal declaração é irrelevante para a classificação destes como textos literários. Com ou sem imaginação, as narrativas são claramente literárias e as descrições aproximam-se das melhores e mais intensas que se podem encontrar, em língua portuguesa, sobre África:

 

"Um dia, quási a mêdo, o sol descobre a face. Então, se o homem branco penetra na selva, estremece e fica atónito de espanto, confusamente amedrontado. Olha e nada reconhece. Sumiram-se as feições dormentes do estio. A païsagem transfigurou-se. O mato despertou, em frenéticos sobressaltos. E a transmutação entontece, desorienta, enche-nos de enleios singulares. A colinas pardacentas surgem-nos verde-oliváceas. Uma rocha côr de bronze aparece-nos esmeraldina. Há esferas de malaquite onde víramos pedregulhos negros e agudos. Já não existem os cerros ásperos, os penhascais, as penedias sôltas. A selva cresceu, agigantou-se, expandiu-se numa extravasão vertiginosa de seivas; transpôs todos os obstáculos com ímpeto silencioso e feroz. Largas 'picadas' feitas pelos europeus, trilhos gentílicos, tugúrios de caçadores mussorongos, arimos de ginguba, clareiras tisnadas pelo fogo, tudo foi reconquistado pelas vegetações em delírio. Não há brechas, nem veredas. Há muralhas de trepadeiras, de ramúsculos e rebentões; tôrres de folhagens escamulosas, sebes eriçadas de mucrões e acúleos, pêlos rijos como cordas, ramos cortantes como punhais. Corriolas corpulentas marinham até o cocoruto das árvores maiores, enrolam-se, multiplicam os braços, desfiguram os perfis graciosos das palmeiras, os caules raquíticos das matebas, os corpanzis das acácias rubras. O capim avança por cima dos ramos coriscados. Reverdecem estolhos e arbustos, à beira dos gigantes vencidos pelo raio e pelo vendaval. Abrem-se corolas de pesadelo, na berma dos paúis borbulhantes de sapos. Há um fermentar rechinante de coisas pútridas. Adivinham-se as sucções gulosas das humícolas, sorvendo vida na podridão dos lenhos mortos. Sentem-se os frémitos da antese, as vibrações do labor espérmico.

 

Os charcos transformaram-se em lagos; os riachos alastram pelas redondezas e não permitem passagem. Envolve-nos uma luminosidade espectral, lívida e baça. Ficam verdes os rostos e as vestimentas. É verde o bafo que nos sai da bôca. Das penumbras, vêm rumores indistintos. Rangem troncos, na gestação de rebentos; remexem fôlhas, ajeitando-se para maior crescimento; gemem os ramitos novos, para alcançarem alturas onde brilha o Sol. Movimentos furtivos agitam as pedras vestidas de líquenes. Súbitos estremecimentos deslocam a crosta do solo empapado de água. Estalidos, roçagares farfalhantes, silvos inexplicáveis... Os fungos estoiram e abrem bôcas. Rolam troços de  cascas roídas pelas salalé. Despenham-se troncarias velhas, rendidas ao pêso dos cipós. E a neblina virente que nos envolve esbate contornos, esfuma perfis, empresta às coisas e às criaturas assustadas feições de fantasmas. Temos a perturbadora impressão de penetrar num planeta diferente. Compreendemos – mais ìntimamente do que nunca – palpitarem à nossa volta fôrças monstruosas."

 

 

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23.02.10

Castro Soromenho - Homens sem Caminho


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Capa de Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957).

 

Castro Soromenho (1910-1968), Homens sem Caminho (1946).

 

O conflito entre Lundas e Quiocos que se desenvolve ao longo da narrativa vem sublinhar a inutilidade da resistência àquilo que parece ser o destino de cada um destes povos – o domínio, no caso dos Quiocos, e a submissão, no caso dos Lundas.

 

Mas, em território Lunda, o conflito é também um conflito interior, de um proscrito que regressa ao seu povo e é impotente para o salvar da ameaça dos Quiocos, e um conflito exterior, colectivo, que sublinha a decadência dos Lundas. A redução à escravatura vem confirmar essa decadência e selar a fatalidade do seu destino.

 

Djàlala, que tinha sido um proscrito e agora aparecia como um messias que viria salvar os Lundas, nada pode fazer contra os Quiocos nem contra o destino, que se anunciava através de pequenos sinais de mau-agoiro, de pequenas contrariedades, de pequenos feitiços com devastadoras consequências. O Djàlala do final da narrativa é uma personagem acabrunhada e dominada pelo destino, tendo perdido a personalidade que inicialmente demonstrava:

 

"A história da fuga do Djàlala do chão dos Bangalas, encheu todo o sertão. Os povos desgraçados e todos os escravos contavam-na ao redor das fogueiras nas noites brancas de luar. E os deserdados, em todas as senzalas lundas além-Caluango, o amaram. Gemeram os quissanges cantando o seu belo feito. E na boca das mulheres andava a sua vida feita em canção. A sua aventura ficara na saudade e no sonho de todos os infelizes. Ninguém, fora da sua aldeia e da taba do soba Cassange, o tinha visto. As mulheres aformosearam-no com a imaginação, e os escravos envolveram-lhe a vida em mistério. E  o mistério volveu-se em lenda e a lenda em canção. Mas no Caluango, no seio da sua gente, e nos povoados vizinhos, a sua história era bem diferente. Toda a gente o olhava com olhos carregados de medo. Os escravos temiam-no, porque ele ali era sobeta, senhor com poderes de mandar chicotear os vassalos e vendê-los como escravos, e os sobas e conselheiros detestavam-no. Só as mulheres lhe queriam bem."

 

Com esta obra, Castro Soromenho obteve o primeiro prémio no concurso promovido em 1942 pela Agência Geral do Ultramar. Para um breve comentário sobre outro livro de Castro Soromenho, Calenga (1945), onde se apresentam duas novelas, consulte: http://literaturacolonialportuguesa.blogs.sapo.pt/2043.html

 

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11.02.10

Castro Soromenho - Calenga


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Capa e ilustrações de Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957).

 

Castro Soromenho (1910-1968), Calenga (1945).

 

Um dos maiores prosadores da literatura colonial portuguesa, Castro Soromenho legou-nos uma obra sui generis, porque centrada quase exclusivamente nas temáticas e nas narrativas perspectivadas segundo as tradições e a cultura dos povos nativos de África.

 

Numa época em que no nosso país ressurgia e se consolidava politicamente o conceito de império colonial e os escritores se extasiavam perante a grandeza de África e todas as potencialidades que esta apresentava para a colonização, Castro Soromenho extasiou-se perante as tradições de sociedades que lhe pareciam estar ameaçadas pela cultura ocidental e perante a sabedoria dos povos dessas sociedades, como os "lundas, êsses poetas da planície". 

 

Castro Soromenho ousou ainda levantar uma voz dissonante da voz do regime. "Ama, 'mãe negra', é essa saüdade, velha de mais de trinta anos, que invoca a tua memória ao findar êste livro dos homens da tua raça infeliz.", afirma o autor no seu preâmbulo a este livro. Pagou essa sua opção consciente e sentida de homenagem aos povos negros de África com o silêncio oficial sobre a sua obra. E com a proibição ou censura da maioria dos seus trabalhos. Terra Morta, um romance da década de 1940, surge referenciado na lista bibliográfica de Calenga com a seguinte nota – "Não pode entrar no mercado", verificando-se a sua publicação apenas posteriormente, já na década de 1960. Esta obra, em particular, teve várias reedições nas últimas três décadas.

 

Duas novelas integram o livro Calenga, 'Calenga e a lenda dos rios do amor e morte' e 'Lueji e Ilunga na terra da amizade'. A primeira narra a história de Calenga, o menino que cresceu para ser soba dos calambas,  e o seu encontro com os cassongos. A segunda apresenta-nos a história da criação do país dos lundas, "como êles a contaram a Henrique de Carvalho [1843-1909], o grande explorador da Lunda, e eu a ouvi nos seus sertões", conforme diz o autor.

 

Dois textos cujas narrativas fluem naturalmente, mostrando que uma aparente simplicidade discursiva pode ser sinónima de excelente literatura.

 

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